segunda-feira, 14 de abril de 2008

PROA

Da proa
Sentado sobre as cordas
Avisto longe o Arquipélago
Após mais de 48 horas atrás ter visto o último sinal de terra
É maravilhoso
Mesmo que seja pontual
E ainda distante
Tenho certeza que não é miragem
O navio prossegue lento
O rumor dos motores
Confundem-se com as batidas do meu peito
A água respinga
E cai sobre mim
Sobre meu rosto
Parece querer me sugerir
Que eu vá às lágrimas
Depois de longo tempo
Num barco pequeno
Mas de bravos homens que se lançam ao mar
E fazem dele a sua vida
Grandes homens
Que abandonam família
Que abandonam a estabilidade da terra
Para navegar
Para sobreviver
Amontoados uns sobre os outros
Como gavetas fúnebres
Fazem um corpo único com a embarcação
Dela entendem
Com ela direcionam seus rumos
Suas vidas
Apesar da precariedade
Do desconforto
Consolam-se
E acho que estão felizes por estar aqui
Como eu estou
Querendo ou não somos uma família
Que poucas vezes se fala
E no silêncio
Nossos olhos dizem tudo
O mar é o portal
Que nos leva com nossas lembranças
De quem amamos
Daqueles que ficaram
E que infelizmente
Não podem compartilhar
De tudo isso
Por mais que contemos
Corre-se o risco de tornar história
História de pescador
Mas não quero credibilidade
Porque vivi
Está comigo por todo o sempre em cada segundo.

Nenhum comentário: